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Pesquisa nacional responde por mais de 70% da cevada plantada no Brasil

Cientistas da Embrapa nas últimas décadas ajudaram a reduzir a dependência de importação

Desenvolvimento do cultivo da cevada cervejeira no país é feito em sintonia com a indústria (Foto: Divulgação/Ambev)

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Gustavo Porpino e Joseani Antunes
Embrapa

No Brasil, em média, mais de 70% da cevada plantada é de cultivares BRS, sigla que identifica materiais provenientes do programa de melhoramento genético conduzido pela Embrapa em parceria com as indústrias de malte do país. Nas lavouras irrigadas paulistas, 90% das plantações são formadas por cultivares Embrapa. A produção média nacional de 300 mil toneladas/ano de cevada atende apenas 43% da necessidade da indústria brasileira para produção de malte. Para suprir a demanda da indústria cervejeira nacional, ainda são importadas anualmente 400 mil toneladas de cevada para completar a produção industrial de malte.

Impulsionados por mudanças de hábitos de consumo, produtos derivados da cevada estão em alta no varejo. O Brasil já conta com 5.254 produtos de cervejarias registrados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), distribuídos em cerca de 80 tipos diferentes de cerveja. O crescimento se deve à abertura do mercado para novas tendências, principalmente as cervejas artesanais.

O pesquisador Euclydes Minella, da Embrapa Trigo (Passo Fundo, RS), destaca:

"A pesquisa precisa sempre estar atenta à evolução do mercado e das demandas para o produto que trabalha."

Para atender tanto às necessidades dos produtores quanto o padrão de qualidade da indústria, o programa de melhoramento genético de cevada cervejeira, iniciado em 1978 pela Embrapa Trigo, atua por meio de parcerias.

"A parceria informal até meados de 1990 e formal desde então, proporciona a garantia de que só se destinam para a lavoura cultivares de fato competitivas em rendimento e qualidade, satisfazendo o interesse de produtor e indústria", comenta Minella. Atualmente as maiores áreas são cultivadas com as cultivares BRS Brau, BRS Cauê e BRS Sampa.

Integração com o mercado

O diferencial do programa de pesquisa da cevada é a integração entre produtores, maltaria e indústria de bebidas por meio de programas de fomento, assistência técnica e compra garantida do produto mediante contrato firmado entre empresas e produtores, seja individualmente ou representados por cooperativas ou associações.

A pesquisadora Cláudia De Mori, da Embrapa Pecuária Sudeste (SP), que participou da análise econômica do complexo agroindustrial da cevada, destaca:

"A principal vantagem deste sistema está na fixação de preço antes do cultivo e na ‘liquidez' de mercado, dando ao produtor condições de planejar seus investimentos na produção."

Outra importante vantagem é a liberação antecipada de área para os cultivos de verão pela precocidade de seu ciclo e a deposição de palhada de excelente qualidade para manejo de ervas daninhas e cobertura de solo.

A organização da cadeia, possibilitada pelo trabalho integrado, favorece também o atendimento às mudanças nos hábitos de consumo de cerveja. As novas tendências de consumo, como a busca por cervejas artesanais, e incremento do consumo em casa em substituição a ida ao bar ou restaurante, têm expandido a oferta de produtos derivados de cevada nos supermercados. E para que o consumidor saboreie uma cerveja de qualidade, os esforços começam ainda nas bancadas dos laboratórios dos pesquisadores.

O apoio tecnológico à produção é suprido, principalmente, pela Embrapa em convênio com as maltarias.

"A Embrapa acompanha esse movimento procurando entender as demandas em termos de qualidade do malte, e por consequência, da cevada", comenta Minella.

Dependência da cevada importada

"O Brasil é grande consumidor e importador de malte (cereal germinado seco) e cevada apenas para atender a indústria cervejeira, havendo, portanto, grandes oportunidades para o aumento da capacidade de malteação e da produção de cevada", salienta Minella.

Para o especialista, a competitividade proporcionada pela genética desenvolvida pela Embrapa tem contribuído para a sustentabilidade da cadeia.

Cultivares de cevada

"As cultivares BRS Kalibre e BRS Kolinda deverão substituir com vantagens as opções atualmente em cultivo", comenta Minella.

A BRS Kalibre para cultivo irrigado, encontra-se em estágio final de avaliação da qualidade cervejeira industrial, sendo produzida comercialmente para semente. BRS Kolinda, cultivar de sequeiro para a Região Sul, está em fase de validação da qualidade de malte pela indústria e multiplicação de sementes.

A ampliação da área plantada com cultivares BRS contribuiu para o aumento de produtividade na cultura da cevada. Em 1985, por exemplo, quando ainda não havia cultivos com genética Embrapa, a produtividade média foi de 1.671 kg/ha. Dez anos depois, as cultivares BRS ocupavam 46% da área cultivada com cevada no Brasil e a produtividade média saltou para 2.526 kg/ha. Em 2016, um dos melhores anos para a cevada, a produtividade média nacional superou 3.900 kg/ha e as cultivares BRS ocuparam cerca de 90% da área plantada. Nesta safra, com as colheitas ainda em andamento, a estimativa é chegar aos 3.000 kg/ha de média, com 70% da área com cultivares BRS.

Paixão nacional

A cerveja já foi apontada, por pesquisa do Ibope em 2013, como a bebida preferida de 64% dos brasileiros para comemorar os bons momentos. Em volume de consumo total, o Brasil é o terceiro maior mercado para cerveja no mundo. Enquanto China e EUA permanecem como os países com maior volume de vendas - ambos registrando queda na produção em 2017 - o Brasil registrou crescimento de 5,4% no último ano (Kirin Beer University). A produção brasileira foi de 14 bilhões de litros de cerveja, uma média de consumo per capita de 60 litros por ano, o que posiciona o País em 17º no ranking global. O faturamento do setor cervejeiro nacional no ano passado foi estimado em R$ 107 bilhões pela Associação Brasileira da Indústria da Cerveja (CervBrasil).